segunda-feira, 14 de maio de 2012

Livro Psiquiatria Sem Alma é lançado em Foz do Iguaçu


Neste domingo (13) foi lançado oficialmente livro Psiquiatria Sem Alma, do médico psiquiatra José Elias Aiex Neto. O evento aconteceu no Salão Internacional do Livro de Foz do Iguaçu. O lançamento estava previsto para o dia anterior, porém, devido a problemas na organização evento foi transferido.

De acordo com Aiex o livro surgiu de uma “inquietação” com relação uma série de estudos que vinham ocorrendo em diversos países sobre os efeitos colaterais de medicamentos para transtorno mentais, bem como, o aumento significativo de pessoas com este problema. “Nos Estados Unidos e na Inglaterra existe gente reagindo aos abusos no uso de medicamentos controlados, no Brasil estamos assistindo sem fazer nada”.

Durante a apresentação o médico citou as principais fontes utilizadas para concepção do livro, inclusive de pesquisadores que revelam as táticas utilizadas pelos laboratórios farmacêuticos para incentivar o uso de medicações. “Estamos vivendo a era das epidemias mentais no mundo, nem as crianças escaparam desta indústria”, apontou.

Aiex ainda destacou alguns efeitos colaterais que determinados remédicos prescritos atualmente podem ocasionar nos pacientes. “Aqui no Brasil, depressão se tornou uma doença incurável. Os médicos esqueceram-se da terapia da palavra, de ouvir os pacientes antes de medicar”. Para ele, o interesse econômico tem prevalecido sobre a saúde dos pacientes. “O atual sistema quer destroçar as pessoas ao ponto de transformar um sofrimento psíquico em seres dependentes de médicos e medicamentos”.

O livro Psiquiatria Sem Alma é resultado de mais de 10 anos de pesquisas e da experiência pessoal de Aiex como psiquiatra há 36 anos. A publicação é da Travessa dos Editores e está disponível para venda na livraria Kunda.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Unila: um caminho para integração da America Latina na Tríplice Fronteira


Se integração tem sido a palavra de ordem dos últimos anos, a região trinacional, composta por Brasil, Argentina e Paraguai vem despontando como um bom exemplo deste predicado. Como projeto desde 2007, a Unila – Universidade Federal da Integração Latino Americana ainda não formou sua primeira turma, mas já pode ser considerada  uma das propostas mais eficazes para a real integração cultural.
A universidade  recebeu seus primeiros alunos em 2010, quando a cidade começou a observar movimentações de jovens paraguaios, uruguaios e argentinos, fora os brasileiros de diversas regiões.  Atualmente, além desses países, a Unila também conta com acadêmicos oriundos da Colômbia, Bolívia, Peru, Chile e Equador. E, de acordo com as últimas notícias, em breve estarão desembarcando na Terra das Cataratas novos alunos, desta vez, de El Salvador e Nicarágua.
Com seus cursos diferenciados e - ainda não reconhecidos pelo Ministério da Educação – a universidade abriga jovens engajados com as mudanças na sociedade e no sistema de ensino. Tanto que em 2011 e em março deste ano já houveram protestos por algumas demandas ainda não foram viabilizadas para garantir o processo universitário de ensino, pesquisa e extensão. Alunos, professores e servidores já encararam as ruas pela garantia de seus direitos.
No campo da estrutura a Unila também tem toda possibilidade de se tornar mais um símbolo, especialmente porque a genialidade do projeto ficou por conta de ninguém menos que Oscar Niemeyer. Com as obras de já iniciadas a pretensão é de atender 10mil alunos, por isso, estima-se que atualmente seu canteiro de obras esteja entre um dos maiores do País e já é o segundo maior da história da região fronteiriça, atrás somente da Usina Hidrelétrica de Itaipu Binacional.
É certo que ainda serão necessários muitos ajustes para que a Unila realmente cumpra seu papel para formação de profissionais diferenciados e por que não dizer, dispostos a lutar contra as intempestividades do capital. No entanto, uma proposta que já nasce marcada por lutas e principalmente pela união de povos, tem os elementos ideais para o sucesso. 

terça-feira, 1 de maio de 2012

Blog novo na área!


Atendendo aos inúmeros pedidos (jura?) achei que já estava na hora de ter um blog próprio. Neste primeiro momento estarei reunindo alguns artigos já publicados e em breve estaremos com textos novos.
Preferi chamá-lo de divagações, pois não posso e nem pretendo afirmar nada.
 O que circulará por aqui são apenas ideias e visões de mundo que estes pouco mais de 10 anos de jornalismo têm me acrescentado.
O espaço está aberto a críticas e sugestões. Fique a vontade!
Abraços!!!

Fatos inverídicos e aberrações inventadas


Abaixo o texto do jornalista Wemerson Augusto - Cearánews publicado 2011 no Observatório da Imprensa sobre o livro de minha autoria, juntamente com o jornalista Ali Farhat - Terrorista Por Encomenda - O discurso midiático e a geração do homem símbolo na fronteira.
No ano que se completam 10 anos dos atentados terroristas aos Estados Unidos da América e a satanização midiática das Três Fronteiras, entre Brasil, Paraguai e Argentina, recomenda-se a leitura do livro Terrorista por Encomenda: Discurso midiático e geração do homem-símbolo na fronteira, dos jornalistas Ali Salman Farhat e Fernanda Regina da Cunha. A obra revela bastidores e invenções dos fatos pela mídia norte-americana, com apoio da imprensa brasileira e paraguaia.
Para instituir o homem-símbolo e relacionar a comunidade árabe da fronteira - que soma cerca de 15 mil pessoas, entre imigrantes e descendentes, apenas em Foz do Iguaçu (PR) – com os atentados de setembro de 2001, a mídia relutou por fatos, inventou aberrações e expôs a região de forma ridícula. As Três Fronteiras e os povos de origem árabe foram apunhalados. Há sequelas ainda não cicatrizadas.
Era a mídia a trabalho da ordem do ex-presidente dos EUA, George W. Bush: "Precisamos estar alertas para o fato de que esses malfeitores ainda existem." Jornais, revistas e emissoras de televisão esquentavam notícias, envelhecidas há meses. A prática se repetiu com frequência, por uns nove meses, após a queda das Torres Gêmeas, nos EUA.
Uma imagem digna
A mídia precisava dar vida aos fatos, queria manchetes fortes e fotos de personagens. Eis que ela inventa o homem-símbolo, morador da fronteira, comerciante, libanês e simpatizante do partido político Hezbollah. A primeira séria dos fatos é marcada para outubro de 2001, com o pedido de prisão preventiva do comerciante Assad Ahmad Barakat por suspeita de ser filiado ao grupo Hezbollah.
Quais eram as provas? Conforme o estudo de Ali Salman Farhat e Fernanda Regina da Cunha, o governo paraguaio pedia a extradição do libanês por ter encontrado no cofre da empresa do comerciante informações ligadas ao Hezbollah. A polícia paraguaia vasculhou os arquivos do empresário e capturou, entre outros objetos, informações de um colecionador e simpatizante do grupo político.
O fato não teve muita sustentação. Era preciso ir mais além. A mídia precisa de uma imagem digna, semelhante à prisão de grandes bandidos. Esse dia foi marcado para 22 de junho de 2002. O libanês é surpreendido pela Policia Federal em seu apartamento em Foz do Iguaçu. Acordou assustado com a ordem de prisão, a pedido da justiça paraguaia.
As mazelas deixadas pelos fatos
Para a mídia, foi o êxtase. Era a materialização do discurso, como apresentam Farhat e Cunha (2009). "Era a construção da identidade dentro, e não fora, dos discursos. Era Assad Ahmad Barakat despido de sua naturalidade, de seus sonhos, de ideais, de verdade enquanto cidadão em seu local histórico e institucional específico, no interior de formações e praticas discursivas específicas (…)."
A justiça alegava que Assad era criminoso, por fazer apologia ao partido e financiar o grupo, simplesmente por encontrar informações do partido, no cofre de sua empresa, em Ciudad Del Este (Paraguai), cidade que faz fronteira com Foz do Iguaçu e conhecida internacionalmente por seu comércio de importados.
De todas as acusações feitas a Assad Ahmad Barakat, uma única foi comprovada. A evasão de impostos de Ciudad Del Este. No entanto, a mídia não teve a coerência de abordar este assunto. Preferiu relacionar cultura, religião e as Três Fronteiras a Bin Laden, Al-Qaeda e atentados terroristas. É mais uma, de muitas outras histórias, em que a imprensa inverteu os valores e o rumo da história.
"Barakat não tem a lembrança de ver os filhos crescendo, não tem a foto dos primeiros dias de escola dos meninos, de seis aniversários, de seis natais, de seis inícios de novos anos. Não abraçou ninguém dos seus afetos por seis anos fora do território enjaulado. Seis anos numa cela e uma vida inteira isolado em um presídio sem paredes", revelam Farhat e Cunha (2009). O livro encerra com mazelas deixadas pelos fatos orquestrados pela mídia: "Assad Ahmad Barakat não mora mais em Foz do Iguaçu. Não é mais cidadão brasileiro, nem paraguaio, nem libanês. Não tem mais passaporte. Não tem visto. Não mora mais com dois dos três filhos e nem com a mulher com quem continua casado. Barakat tem uma caixa grande de papelão, cheia de recortes de jornais em que ele é descrito pela imprensa mundial como o primeiro terrorista da fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina."

O pecado da mídia


Que pecado seria mais pesado àquele que deturpa, manipula e infiltra no imaginário popular disseminando a ideia de que todas as mazelas do mundo atual são fatos isolados? A realização de um espetáculo diante de uma tragédia provocada pela insanidade de um dos tantos insanos gerados pelo sistema capitalista, em nenhum momento aponta para si. A mídia tem o poder de se eximir da culpa. Não oferece sequer a mais remota possibilidade de que tais fatos possam advir de uma sociedade cada vez mais pautada pelo individualismo e por valores estabelecidos pelo sistema dominante.
No sofá da sala testemunhamos quase que instantaneamente o show de horrores em uma escola do Rio de Janeiro. Os mestres consultados pela reportagem jamais sugerem que tais fatos podem ter uma ligação com a sociedade em vivemos, com os valores apregoados por essa mesma tevê que especula as razões do acontecido. A forma de repercutir este tipo de acontecimento já está pronta, é um modelo pré-fabricado, lançado no momento em que o fato ocorre. Este modelo parece querer compreender cada detalhe do assunto em questão, porém, já está programado para excluir o real motivo.
Para que haja compreensão destas questões é necessário apropriar-se do conhecimento sobre o “modus operandi” do capitalismo. A mídia, ao tratar determinados assuntos (inquietantes para sociedade) utiliza-se do efeito ideológico para produzir a dominação. E este é seu papel, enquanto reprodutora do sistema. A sensação que temos ao assistirmos uma reportagem tão bem recheada de fatos e desdobramentos possíveis é a de que aquilo é a mais pura expressão da verdade. Quem há de contestar?
Neste padrão de qualidade se dissimula o cerne da questão. Sem mencionar a realidade por trás dos fatos, a verdade dura de engolir, aquela que nos revela que o verdadeiro mal está inserido diretamente no seio da sociedade dominada e manipulada pelo capitalismo.
A grande mídia, enquanto parte do sistema jamais colocará à disposição da massa a triste realidade em que vivemos. A doença não é apenas do homicida, é a doença da sociedade, é a doença da própria mídia, é o mal estar provocado por um modelo que castra identidades e gera as patologias do chamado “mundo moderno”. A forma não explica que hoje os consultórios psiquiátricos (e outros) estão lotados de humanos que ainda não estão totalmente enquadrados naquilo que seria o ideal da sociedade capitalista, mas que vivem diariamente a angustia de tentar fazer parte deste ideal. Assim, o melhor é rotular estes desagregados como bipolares, depressivos, maníacos e tantos outros adjetivos que explicam os conflitos internos.
Para uma comunicação a serviço da classe dominante é muito mais apropriado promover um sistema de consciência coletiva, isolando fatos, do que tocar no olho do furacão.  Quando o telespectador ouve o jornalista citar uma possível ligação do assassino de crianças da escola com redes extremistas islâmicas, logo ele fará uma associação com a reportagem que leu na semana anterior, justamente sobre este “tipo de gente”. Pronto; a consciência coletiva está montada, conforme deve ser, a ordem está legitimada.
Assim , com a população é adestrada para “entender” o que passa em sua  sociedade, o fluxo segue seu rumo normal. O pecado já tem um dono. A mídia já esclareceu tudo que lhe caberia e a ideologia é reproduzida para cumprir se papel legitimador do poder dominante – como sempre. 


Artigo publicado no site www.guata.com.br                     
                                   

Jornalistas no combate ao mau jornalismo


Fatos ocorrem a cada segundo, fatos importantes, pouco importantes, fatos que dizem respeito diretamente as nossas vidas e fatos que em nada nos acrescentarão.  Informações existem ou inexistem, informações são repassadas e não são repassadas. Algumas vezes, informações são alteradas.

Difícil definir o que é pior no caso da informação: se aquela que não nos é transmitida ou aquela que sofre contaminações.  Isenção em um texto, seja ele jornalístico ou não, é algo impossível de se encontrar, no entanto, o limite de influência daquele que é responsável pela informação precisa ser ponderado. A atualidade trouxe consigo uma grande facilidade no acesso a informação. Diariamente somos bombardeados de notícias por todos os lados e aí, como filtrar?

A grande bandeja de notícias oferece ao receptor a possibilidade de analisar diversas fontes e escolher aquilo que lhe pareça mais coerente. Talvez esteja aí o poder de quem está do lado de cá da informação.  Infelizmente no Brasil, nem todos têm acesso às mídias alternativas – seria utópico demais acreditarmos que já é assim – porém, o caminho já não possui mão única. Outro fato que não pode ser negado é aquela cultura arraigada em boa parte da população, cujo fundamento aponta para as grandes empresas de mídia como a fonte de informação única necessária ao dia-a-dia. Estamos caminhando sim, mas é necessário saber que até mesmo a capacidade de discernimento passa impreterivelmente pela boa qualidade da educação formal, aquela capaz de fazer pensar, mas esse é um outro debate.

Não há dúvidas que os movimentos sociais contrários ao capitalismo que estão ocorrendo ao redor do mundo são ignorados por muitos, já que uma boa parcela dos segmentos da "grande imprensa" preferem não noticiar ou então "mascarar" as informações sobre o assunto. O controle da informação é um fato real e presente, a grande massa desconhece e continuará desconhecendo porque conta com poucos para lhe dizer da realidade.

 O jornalista e sociólogo Ignacio Ramonet já propôs a criação do "quinto poder", com a função de denunciar os grandes grupos midiáticos que não defendam a população, mas ao contrário, atuam como opositores. A academia nos ensina uma das premissas do bom jornalismo: "ouvir sempre, os dois lados". Com esse dado na cabeça já se sabe que tem algo errado acontecendo por aí.

A prostituição da imprensa irá diminuir quando os próprios jornalistas tomarem a luta para si, em defesa da boa informação e do direito dos cidadãos de receberem a notícia como é ela é - nem mais nem menos. Contextualizar uma notícia pede consciência de classe e até mesmo, espírito de humanidade, por saber que podemos, sim, atuar na transformação da sociedade. Falo aqui de resistência. A proposta aos jornalistas é de atuarem na frente de defesa dos menos favorecidos, grupo ao qual também pertencemos.

Talvez seja este o momento de parar com a reverência dedicada a certos órgãos de imprensa. Aquela mesma reverência que faz um aspirante sonhar em obedecer determinados padrões de qualidade, não apenas pelo salário, mas principalmente pelo status ideológico que aprendeu a almejar. Nesta história de guerra midiática, os jornalistas devem ser os protagonistas e irem para batalha por si e pelos outros também.

A imprensa e a construção do terrorismo no Brasil

Contrabando, crime organizado, tráfico, terrorismo. Há muito tais termos norteiam as notícias veiculadas na imprensa nacional e internacional sobre uma das regiões mais peculiares do planeta: a Tríplice Fronteira. Nos últimos tempos a pauta principal ficou mesmo em torno da possível existência de células terroristas abrigadas na região.

Composta pelas cidades de Foz do Iguaçu, no Brasil, Ciudad del Este, no Paraguai e Puerto Iguazu, na Argentina, a região trinacional já foi palco para dezenas de hipóteses. Entre elas, de ser um dos maiores canais de movimento financeiro para grupos radicais islâmicos e possuir bases de treinamento para jovens extremistas. Afinal, quais as verdades ou as invenções por trás de tudo isso?

Ao ser declarada por Bush (filho) a segunda etapa da "guerra contra o terror", após os atentados de 11 de setembro de 2001 o espaço onde vivem cerca de 15 mil árabes - imigrantes e descendentes - entrou na lista negra do governo estadunidense. Inaugurada aquela que muitos chamariam de a "nova era na segurança mundial", a mídia também deu início a uma campanha em busca do terrorista escondido na fronteira latino-americana. Assim, como se não bastassem todos os estigmas já enfrentados por este lugar, mais um rótulo era criado.

Recentemente a revista Veja e a editora Abril, foram condenadas pela publicação de uma reportagem chamada "A rede do terror no Brasil", de 6 de abril deste ano. A ação movida por 16 organizações islâmicas pede direito de resposta pela reportagem tendenciosa. Até onde se sabe, Veja já entrou com recurso contra a decisão. Na reportagem, a revista expos novamente a figura do homem que ficou conhecido pela acusação de responsável pelo envio de milhões de dólares para financiamento das atividades terroristas de extremistas islâmicos e uma série de outros crimes jamais comprovados.

Assaad Ahmad Barakat tornou-se o símbolo do terror na fronteira, o verdadeiro representante do Osama Bin Laden neste lado do mundo e por isso passou seis anos preso no Paraguai - após extraditado pelo Brasil em uma decisão polêmica do Supremo Tribunal Federal. O motivo da condenação: evasão fiscal de 100 mil guaranis, o correspondente a R$ 50 reais. Cumpriu toda a pena e está livre de qualquer acusação jurídica, mesmo assim, voltou a ter seu rosto divulgado na página da Veja como um dos terroristas que "estão entre nós". "Cumpri toda pena que me foi imposta e estou tentando voltar a vida normal aqui em Foz do Iguaçu. De repente abro uma revista e vejo meu rosto novamente estampado como um bandido perigoso". Após liberto, Barakat viveu um ano em Curitiba e voltou à Foz. Mora no Brasil e trabalha em Ciudad del Este, onde reabriu um comércio.

Embora sua "dívida" tenha sido paga perante o Estado, Barakat ainda não está livre da mídia. Seu processo de reconstrução pode ser ainda bastante dolorido e moroso. "Sou comerciante, depois dessa reportagem me sinto inseguro em relação as outras pessoas, não sei como serei visto pelos que entrarem em minha loja". Certamente, esta insegurança não se restringe apenas à Barakat, mas a toda comunidade árabe perante uma pregação ideológica constante, com um patrocinador ansioso e nervoso do outro lado. Quem saberia dizer qual o próximo passo? O clima de incerteza impera na comunidade e não poderia ser diferente com base em tudo o que já sofreram; preconceito, intolerância, casos de xenofobia e muito mais.

Enquanto isso a imprensa vai cumprindo sua função de aparelho reprodutor do sistema dominante e eliminando vidas através de palavras. Dessa maneira, materializaram a necessidade de um terrorista, pariram o que lhes foi encomendado pela hegemonia do poder dominante, trouxeram para nós uma guerra, cujos interesses passam longe de um bom furo de reportagem.

Uma matéria desta como da Veja, mancha ainda mais a imagem de um local já marcado pela violência sutil, daqueles que outrora apontavam a seta do preconceito para os sacoleiros. Esta violência que chamo de sutil é uma das mais aniquiladoras que existem, pois é capaz de roubar identidades, criar mitos e apagar com precisão as possibilidades de construção de uma nova imagem.

Para quem ainda não teve oportunidade de ler nos grande órgãos da imprensa (porque eles não publicam), além de ser considerada uma área geograficamente particular, na Terra das Cataratas vivem cerca de 72 etnias, conviendo do forma harmônica e respeitosa. A diversidade cultural cresce ainda mais agora com a presença da Unila - Universidade Federal da Integração Latino Americana, porém, estes fatores não são importantes para eles - infelizmente.

Artigo publicado originalmente no Blog do Nassif http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-imprensa-e-a-construcao-do-terrorismo-no-brasil