terça-feira, 1 de maio de 2012

O pecado da mídia


Que pecado seria mais pesado àquele que deturpa, manipula e infiltra no imaginário popular disseminando a ideia de que todas as mazelas do mundo atual são fatos isolados? A realização de um espetáculo diante de uma tragédia provocada pela insanidade de um dos tantos insanos gerados pelo sistema capitalista, em nenhum momento aponta para si. A mídia tem o poder de se eximir da culpa. Não oferece sequer a mais remota possibilidade de que tais fatos possam advir de uma sociedade cada vez mais pautada pelo individualismo e por valores estabelecidos pelo sistema dominante.
No sofá da sala testemunhamos quase que instantaneamente o show de horrores em uma escola do Rio de Janeiro. Os mestres consultados pela reportagem jamais sugerem que tais fatos podem ter uma ligação com a sociedade em vivemos, com os valores apregoados por essa mesma tevê que especula as razões do acontecido. A forma de repercutir este tipo de acontecimento já está pronta, é um modelo pré-fabricado, lançado no momento em que o fato ocorre. Este modelo parece querer compreender cada detalhe do assunto em questão, porém, já está programado para excluir o real motivo.
Para que haja compreensão destas questões é necessário apropriar-se do conhecimento sobre o “modus operandi” do capitalismo. A mídia, ao tratar determinados assuntos (inquietantes para sociedade) utiliza-se do efeito ideológico para produzir a dominação. E este é seu papel, enquanto reprodutora do sistema. A sensação que temos ao assistirmos uma reportagem tão bem recheada de fatos e desdobramentos possíveis é a de que aquilo é a mais pura expressão da verdade. Quem há de contestar?
Neste padrão de qualidade se dissimula o cerne da questão. Sem mencionar a realidade por trás dos fatos, a verdade dura de engolir, aquela que nos revela que o verdadeiro mal está inserido diretamente no seio da sociedade dominada e manipulada pelo capitalismo.
A grande mídia, enquanto parte do sistema jamais colocará à disposição da massa a triste realidade em que vivemos. A doença não é apenas do homicida, é a doença da sociedade, é a doença da própria mídia, é o mal estar provocado por um modelo que castra identidades e gera as patologias do chamado “mundo moderno”. A forma não explica que hoje os consultórios psiquiátricos (e outros) estão lotados de humanos que ainda não estão totalmente enquadrados naquilo que seria o ideal da sociedade capitalista, mas que vivem diariamente a angustia de tentar fazer parte deste ideal. Assim, o melhor é rotular estes desagregados como bipolares, depressivos, maníacos e tantos outros adjetivos que explicam os conflitos internos.
Para uma comunicação a serviço da classe dominante é muito mais apropriado promover um sistema de consciência coletiva, isolando fatos, do que tocar no olho do furacão.  Quando o telespectador ouve o jornalista citar uma possível ligação do assassino de crianças da escola com redes extremistas islâmicas, logo ele fará uma associação com a reportagem que leu na semana anterior, justamente sobre este “tipo de gente”. Pronto; a consciência coletiva está montada, conforme deve ser, a ordem está legitimada.
Assim , com a população é adestrada para “entender” o que passa em sua  sociedade, o fluxo segue seu rumo normal. O pecado já tem um dono. A mídia já esclareceu tudo que lhe caberia e a ideologia é reproduzida para cumprir se papel legitimador do poder dominante – como sempre. 


Artigo publicado no site www.guata.com.br                     
                                   

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